domingo, 30 de agosto de 2009

Próximo livro de Saramago: Caim

Antes mesmo de publicar seu próximo livro Caim, previsto para outubro de 2009, José Saramago está mais uma vez no centro de uma polêmica discussão que envolve os dogmas cristãos e seu trabalho de ficcionista.
Em Caim, o autor redime o personagem bíblico do assassinato do irmão Abel e credita a Deus a autoria intelectual do crime , ao depreciar o sacrifício que Caim Lhe havia oferecido.
Sabemos que Saramago é ateu confesso e que já criou grandes desafetos com a comunidade católica ao lançar e 1991, O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Ali, conta a história do filho de Deus sob a ótica mais terrena, anticlerical, humanizando Cristo ao evidenciar seu caráter frágil e vulnerável.
Apesar de retomar o mesmo estilo feroz e iconoclasta, Saramago diz não temer ser novamente crucificado ao lançar Caim.
Agora é só esperar o lançamento, ler e avaliar o trabalho que o exímio ficcionista ( Nobel de Literatura) conseguiu fazer, entretecendo dados bíblicos com ficção. Espero
que, longe de credos e crenças, seu livro seja avaliado como obra literária que efetivamente é.

domingo, 23 de agosto de 2009

Das relações entre língua e mundo

As gramáticas, explícita ou implicitamente, tratam das relações entre a língua e o mundo. Muitos estudiosos dedicam anos de pesquisa sobre essas relações, e Sírio Possenti é um deles. Em seu texto: Gramática - os diversos contextos - apresenta um caminho extremamente didático sobre como entender essa proximidade. Apresento algumas sinalizações que julguei interessantes.
É importante perceber que as relações entre língua e mundo existem, mas não são diretas. Ou seja, uma língua não reflete o mundo " como ele é ". A relação é mediada pela cultura. Podemos dizer que cada língua é uma visão de mundo particular. Esse fato se revela mais claramente no léxico do que na sintaxe. Por exemplo, os sistemas de parentesco ou os nomes das cores são bastante diversos conforme as diferentes línguas.
Mas, em alguns casos, a concepção de mundo ajuda a compreender aspectos da sintaxe. Vejamos alguns exemplos:
  • os verbos de ação ( correr, andar, atirar etc.) , em princípio - a não ser que se trate de figuras de linguagem ( metáforas, personificações etc.) - , só podem ter sujeitos animados, ou seja, nomes que designem indivíduos ou grupos de indivíduos que concebemos como animados. Por isso, consideramos normal O tigre perseguiu o coelho, mas achamos estranha *A alface perseguiu a vaca. ( O * indica uma construção que não existe na língua).
  • Se os verbos não admitem sujeitos de certo tipo ( por exemplo, inanimados), esse critério pode ajudar a definir, por exemplo, a classe dos verbos auxiliares. Um auxiliar não interfere na seleção de um sujeito, que é sempre feita pelo verbo principal. Assim, estranhamos * O queijo leu Os Lusíadas, também estranharemos * O queijo vai ler Os Lusíadas. No entanto, se dizemos corretamente Este queijo cheira mal, também diremos Este queijo vai cheirar mal. ( Observemos também que, se o verbo é ler, não basta que seu sujeito seja animado; é preciso também que seja humano. Por isso, também seria estranha uma frase como * O bezerro leu Olavo Bilac.
  • Usualmente, em relação aos verbos, as gramáticas e dicionários se preocupam apenas em explicitar sua regência, ou seja, o tipo de relação com seus complementos - se é direta ou indireta. Mas há outros fatores envolvidos, e estes estão até mais relacionados a aspectos culturais. Assim, por exemplo, o objeto de um verbo como beber é, tipicamente, uma palavra ou expressão que designa líquido. Por isso, consideramos normais frases como Ele não bebe coca-cola de jeito nenhum, mas é bem provável que víssemos com alguma estranheza * Ele não bebe carne malpassada.
  • Quando as frases estão em ordem direta, não há dificuldade alguma em identificar sujeito e objeto. Mas, se houver alguma inversão, pode ser que a solução esteja na consideração dos aspectos culturais. Por exemplo, a frase O frango o cozinheiro assou, saberemos que o sujeito é O cozinheiro, porque, tipicamente, cozinheiros assam frangos, e não o inverso. É claro que, se a frase for O menino o cachorro matou, o problema é mais complicado. Sua solução deve ser procurada em outro lugar, usando outros critérios ( em outro ponto da narrativa, por exemplo), porque ambos, em princípio, podem matar e ser mortos pelo outro.

Por tudo isso, devemos estar atentos não só ao conhecimento enciclopédico, mas também às relações da língua com os aspectos culturais.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O gerundismo " do bem "

É preciso combater o gerundismo, mas cuidado para não tornar marginais os usos legítimos de locuções no gerúndio.
O emprego viciado de formas como " vou estar passando o recado " pode estar longe de ser erradicado, já que há uma década esse fenômeno se propaga feito gripe pelo país; no entanto, o exagero do combate pode levar a distorções comunicativas, visto que não dá para condenar o uso do gerúndio sem examinar seu contexto.

O uso do gerúndio é válido quando:


  • Se quer mostrar um futuro em relação a outro futuro: " Amanhã não posso viajar porque vou estar carimbando documentos" significa que vou passar o dia a carimbar. Em "Hoje à noite, vou estar vendo novela enquanto você vê futebol ", temos situações diferentes feitas simultaneamente e admitem locução com gerúndio. Em " Quando você chegar, eu vou estar dormindo", a ação de " dormir " é contínua e simultânea. O uso está inserido no sistema da língua. É legítimo.
  • O verbo implicar duração ou admitir repetição: " Vou estar fechando o balanço da empresa" está correto, mas " vou estar enviando o documento " é estranho. É um documento só e a ação é relativamente rápida ou instantânea. Já em " Amanhã, vou estar apertando parafusos o dia todo ", a frase descreve ação contínua e repetida. Voltarei a apresentar mais casos sobre o uso do gerúndio. Até mais!
  • Se quiser saber mais acesse: www.revistalingua.com.br

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Português on-line na Inglaterra: sites para intercâmbio de idiomas têm ajudado a melhorar o português dos ingleses
Parece que o charme cosmopolita de Londres é resultado de um inglês falado misturado a dezenas de outros idiomas. Segundo o livro Multilingual Capital, são falados mais de 300 idiomas na capital britânica, só entre crianças em idade escolar. O português está entre os 15 mais comuns, fato que não surpreende, já que são estimados 60 mil brasileiros por lá.
Uma amostra dessa realidade tupiniquim no coração da Inglaterra, e da vitalidade do idioma no ambiente londrino, está retratada no filme Jean Charles. Apesar do episódio trágico, a história registra de forma quase documental o cotidiano de estrangeiros espalhados por uma cidade que conta com imigrantes de todo o mundo. Há uma febre britânica de sites de relacionamento especializados no intercâmbio de idiomas. Ao menos cinco deles criaram comunidades em que estrangeiros residentes na Inglaterra, como a comunidade brasileira, ensinam o próprio idioma em troca de aprender outras línguas.
Longe de se constituir em portais de encontros, experiências on-line do gênero têm virado uma opção de aprendizado em Londres. De um meio para fazer novas amizades, surgem caminhos para a ampliação da Língua Portuguesa.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O português no ENEM: As novas exigências em português e redação que podem valer vaga no ensino superior.

Ver o ENEM como se fosse vestibular é um jeito de o MEC sinalizar outro tipo de formação ao ensino médio, voltada para a solução de problemas em vez de acúmulo de conteúdo. Dessa forma, o exame passa a forçar o ensino básico a trabalhar conteúdos de linguagens atuais e próximos do cotidiano do aluno, na apropriação do conhecimento voltado para uma finalidade, para seu uso social.
A consequência direta desse raciocínio é que os critérios de avaliação de língua portuguesa e redação do ENEM seguem a tendência de medir competências e habilidades, não tanto a terminologia dominante nos estudos de gramática. Isso implicará uma avaliação que não priorize a mera identificação, decodificação, classificação e nomeação dos fenômenos e objetos estudados, mas privilegie o uso da língua portuguesa nas mais diversas situações de comunicação, em que os elementos linguísticos, textuais, discursivos e conceituais contribuam para o raciocínio, a análise, a interpretação e as inferências do aluno.
Nas provas objetivas, de marcar "x", não só os conhecimentos do léxico da língua portuguesa e das relações lógico-semânticas serão cobrados, como também a capacidade de realizar cálculos pragmáticos a fim de descobrir a intenção dos textos. O aluno deve dominar os vários mecanismos sintáticos e saber utilizar adequadamente os sinais de pontuação, as formas de concordância verbal e nominal, os aspectos e modos de conjugação dos verbos, elementos de referência pessoal, espacial e temporal. (Imagina-se que não serão pedidas somente as nomenclaturas desses fenômenos, mas seu funcionamento na língua).
Já a redação deverá ser estruturada na forma de texto em prosa do tipo dissertativo-argumentativo, a partir de um tema de ordem social, científica, cultural ou política. Espera-se que o candidato revele sua competência discursiva que o capacite a se constituir sujeito usuário da língua, dotado de autonomia, de reflexão, de posição responsiva.
Os critérios para a avaliação da redação foram baseados nas cinco competências da prova objetiva ( dominar linguagens, conhecer fenômenos, enfrentar situações-problemas, construir argumentação e elaborar propostas de solução levando em conta os direitos humanos e a diversidade sociocultural).
Atentos às sinalizações inovadoras do ENEM, é hora de redobrar nossa atenção aos estudos. Sucesso a todos!!!
Quer saber mais : www.revistalingua.com.br

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Visita ao MLP

Visitar o MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA - MLP - é, sem dúvida, uma atividade complementar para a vivência de nosso patrimônio linguístico. É uma oportunidade de conscientização do que é ser brasileiro e falante desta língua, de nosso berço e do mundo.
Por tudo isso, o Colégio Argumento agendou uma visita guiada ao MLP para o dia 21 de agosto.
Informações mais detalhadas serão dadas em sala de aula. Aguardem!!

Quem sou eu

Mirian Rodrigues Braga é mestre e doutora em Língua Portuguesa pela PUC/SP. Especializou-se em analisar as obras de José Saramago. Em 1999, publicou A Concepção de Língua de Saramago: o confronto entre o dito e o escrito e também participou da coletânea José Saramago - uma homenagem, por ocasião da premiação do Nobel ao referido autor. Em 2001, publicou artigo na Revista SymposiuM da Universidade Católica de Pernambuco. Atuou como professora-assistente no Curso de Pós-Graduação lato sensu da PUC/SP. É professora de Língua Portuguesa e Redação no Ensino Médio e Curso Pré-Vestibular do Colégio Argumento.