segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Tuitadas imortais

A Academia Brasileira de Letras recebeu, em seu Chá dos Acadêmicos, três usuários do microblog Twitter que tiveram seus microcontos premiados. Os vencedores, um do Rio e dois do interior paulista, foram contemplados com dicionários entregues por "imortais" como Nélida Piñon, Arnaldo Niskier e Cícero Sandroni.
A formalidade, porém, restringiu-se à premiação. Os microcontos vencedores, além de primarem pela concisão e informalidade típicas do microblog, marcam a abertura da ABL a uma linguagem "jovem", cuja vitrine seriam os textos veiculados por internautas em redes sociais. Participaram da competição cerca de 2.290 microcontos sobre os mais diferentes temas. Praticamente tudo era permitido, desde que não se ultrapassassem os 140 caracteres impostos pelo formato da ferramenta.
Eis os três microcontos vencedores do concurso promovido pela ABL:
1º lugar
" Toda terça ia ao dentista e voltava ensolarada. Contaram ao marido sem a menor anestesia. Foi achada numa quarta, sumariamente anoitecida."
Bibiana Silveira Da Pieve, Rio de Janeiro

2º lugar
" Joguei. Perdi outra vez! Joguei e perdi por meses, mas posso apostar: os dados é que estavam viciados. Somente eles, não eu."
Carla Ceres de Oliveira Capeleti, Piracicaba - S.Paulo

3º lugar
" Não sabia ao certo onde tecer sua teia. Escolheu um cantinho da parede da cozinha. Acertou na mosca."
Eryck G. S. de Magalhães, Guaratinguetá - S. Paulo

A iniciativa da Academia Brasileira de Letras de se abrir às novas tecnologias em favor da literatura brasileira mostra-se bastante positiva, já que procura aproximar a tradição acadêmica da sociedade. Acrescente-se a isso, a questão dos gêneros discursivos, que devem atender às diferentes esferas de circulação e, portanto, adaptar-se às situações contextuais e midiáticas, como nesse caso, a formatos textuais, até então, inimagináveis pelos "imortais".

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Aurélio no celular

Com o avanço da tecnologia, não há mais espaço para argumentos contra os dicionários compactos, muitas vezes preteridos por serem pouco abrangentes em relação às edições integrais. O lançamento da versão eletrônica do dicionário Aurélio para celulares rompe essa lógica ao dar conta dos 435 mil verbetes da edição completa, até então restritos a um calhamaço de páginas, que a partir de agora podem ser acessados em qualquer lugar do mundo sem a necessidade de se conectar à internet para a consulta.
Os 435 mil verbetes compreendem locuções, definições, classes gramaticais, conjugação completa e etimologia. O aplicativo, disponível na loja virtual da Apple, vem sendo bem avaliado pelos usuários, que têm demonstrado preferência pelo programa em vez das duas mil páginas da edição impressa.

sábado, 28 de agosto de 2010

Ficha limpa do idioma

Os tempos verbais podem transformar-se em armas perigosas. Explicando: com diferenças sutis entre si, os tempos verbais podem ser usados para alterar o sentido, muitas vezes, intencionalmente. É o caso que ocorreu, recentemente, no projeto de iniciativa popular que impedia a candidatura de políticos condenados pela Justiça, o Ficha Limpa, aprovado pelo Senado em 19 de maio e sancionado pelo presidente Lula em 7 de junho. Tudo ia bem quando, depois de aprovada a lei, uma emenda de última hora alterou um tempo verbal do projeto original.
O projeto original dizia que seriam inelegíveis os políticos que "tenham sido condenados" e os que "foram condenados" pela Justiça, isto é, qualquer pessoa condenada pela Justiça seria inelegível. No entanto, a Câmara dos Deputados, não satisfeita, atenuou o projeto, de forma que a interpretação passou a ser a de que "só os condenados por colegiado de juízes seriam inelegíveis".
Mesmo com essa mudança, segundo alguns políticos, ainda seria necessário alterar o texto para evitar equívocos de sentido. Dessa forma, para "uniformizar o texto", disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) criou emenda que alterou o tempo verbal para "os que forem condenados".
O que terá pretendido o inefável senador ao mudar o tempo "tenham sido" (pretérito perfeito do subjuntivo) por "forem" (futuro do subjuntivo)?
Sabemos que o subjuntivo de "que forem condenados" aponta hipótese de que algo venha ocorrer. Na prática, deixa políticos condenados livres para se candidatarem.
Ao responder à Folha de S.Paulo se havia feito a emenda de redação para beneficiar o deputado Paulo Maluf, também do PP, condenado por colegiado de juízes, Dornelles garantiu que não. Explicou que só quis unificar os tempos verbais porque havia divergências no texto. Então, é lícito perguntar por que não os unificou no passado " foram" no lugar de " tenham sido"?
Não é o primeiro caso de mudança de português que, cosmética na superfície, transforma um texto legal; mas é o primeiro relevo eleitoral dado a um tempo verbal. Nesse caso específico, percebe-se que a troca de tempos verbais delineou implicações reveladoras do caráter do político brasileiro.
Muito oportuno o que disse Josué Machado relativamente a esse carnaval político: " Para que clarear o que vai tão bem na penumbra? "
Esse episódio alerta-nos para as sutilezas dos sentidos construídos pelos tempos verbais. Principalmente nesse ano eleitoral, todo cuidado é pouco. Numa disputa tão acirrada como a que se anuncia, a vigilância na linguagem pode revelar-se mais que justificada.



segunda-feira, 28 de junho de 2010

O tempo na narrativa

Sabemos que uma das grandes marcas do texto narrativo é o eixo da temporalidade. Dito de outra forma, toda narrativa é conduzida por uma linha temporal que pode ser sincrônica ou diacrônica; resultando, sempre, numa sucessividade de ação e reação.
Recurso consagrado na literatura, a narração no passado divide a história entre o tempo dos fatos e o tempo em que eles são contados.
Se prestarmos atenção, verificaremos que a maioria das narrativas acontece no passado. Uma voz, que pode ser de um narrador ou de um personagem, conta-nos algo que já aconteceu, não importa se há muitos anos ou há alguns segundos. Narrar no passado é recurso tão generalizado que se tornou quase imperceptível. Instintivamente já esperamos que um conto ou romance seja narrado dessa forma. Está na raiz de toda literatura como " contação de histórias " a reconstituição verbal de um fato acontecido, seja real ou imaginário. Toda narração é a narração presente de um fato passado.
Ou melhor, nem toda. É difícil rastrear quem foram os primeiros autores a contar no presente uma história fictícia. Esta forma de narrar está entrelaçada à literatura modernista que rompeu o molde tradicional de narrar nas últimas décadas do século 19. Em meados do século 20, já era um procedimento absorvido tanto pela alta literatura quanto pela literatura de massas da época.
Vale lembrar que há também a narrativa que busca o imediatismo do cinema. Assim, temos a sensação de ver a história acontecer aqui e agora, diante dos nossos olhos. Para muitos autores do século 20, era um modo instintivamente moderno de narrar, pois parecia prometer uma fusão entre passado e presente, autor e leitor, realidade e história.
Lembremos que Machado de Assis manipulava com maestria as duas formas de narrar (passado e presente), valendo-se do que podemos chamar de ' autoridade de autor', isto é, o poder que tem o autor de fazer o leitor seguir-lhe os passos, aceitando tudo, acreditando em tudo, confiando no jogo imaginativo que o autor lhe propõe. A grande vantagem de Machado era a de que escrevia em folhetins de jornal e se valia da cumplicidade implícita acarretada por esse meio de dialogar com o leitor. É o caso que se verifica em "Habilidoso" (1885), em que emprega o senso de imediatismo, de presença, criando uma narrativa no presente do indicativo.
Outro exemplo de narrativa que recorre ao mesmo expediente é "Noivado"( 1966) de Osman Lins.
Vale a pena revisitar esses textos, ou então conhecê-los, pois eles revelam o grau de excelência em lidar com o tempo na narrativa.

sábado, 19 de junho de 2010

Redação da UNICAMP

Estive hoje na UNICAMP para participar da Oficina de Redação UNICAMP 2010, sob a responsabilidade da COMVEST ( Comissão Permanente para os Vestibulares da UNICAMP).
Já havia combinado com meus alunos que, assim que obtivesse as informações, estaria repassando-as. Optei por deixar, na área restrita do site da escola, uma síntese do conteúdo desse encontro. Conversaremos com mais profundidade sobre o assunto em sala de aula, esclarecendo possíveis dúvidas.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago deixa saudade

Estou triste. Meus alunos e amigos sabem que estou triste. Faleceu hoje, José Saramago, o primeiro escritor de Língua Portuguesa a receber o prêmio Nobel de Literatura em 1998.

Ateu, cético e pessimista, Saramago sempre teve atuação política marcante e levantava a voz contra as injustiças, a religião constituída e os grandes poderes econômicos, que ele via como grandes doenças de nosso tempo.

Estou triste. Profundamente triste. No entanto, orgulhosa por ter perseguido por dez anos a obra de um escritor que, de uma singela aldeia de Portugal (Azinhaga), com avós analfabetos e pais humildes, mostrou ao mundo a que veio.

Em A Caverna, há uma passagem que pode encerrar essa postagem:

"(...) a não ser que esses tais rios não tenham duas margens, mas muitas, que cada pessoa que lê seja, ela, sua própria margem, e que seja sua, e apenas sua, a margem a que terá de chegar."

terça-feira, 15 de junho de 2010

A mentira tem pernas curtas

Será que a origem da expressão " A mentira tem pernas curtas" está ligada ao pintor Toulouse-Lautrec?
Márcio Cotrim diz que a expressão em questão leva-nos à Paris do final do século 19, época em que viveu Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa. Tinha estatura muito baixa por causa de um defeito físico que lhe atrofiara as pernas. Isso, porém, não o impediu de notabilizar-se como um dos grandes nomes da pintura universal.
Criou um estilo conhecido como art nouveau, a partir de ilustrações de cartazes retratando a esfuziante dança do can can no célebre cabaré Moulin Rouge, de onde era assíduo frequentador. Lá consumia o absinto, bebida então em moda por um suposto efeito alucinógeno que fascinava outros artistas daquela geração como Rimbaud, Oscar Wilde, Baudelaire e Vincent van Gogh.
Faleceu precocemente, aos 36 anos, vitimado por sífilis e alcoolismo. Ícone da boemia parisiense, não entrou para a história apenas como grande pintor, mas também por um hábito surpreendente e pouco nobre: o de contador de lorotas, a ponto de seu talento artístico ser comparado às que ele contava em suas rodas sociais.
Tudo isso fez surgir a expressão " a mentira tem pernas curtas."
Chega-se à conclusão de que brilhantes vocações , às vezes, convivem com censuráveis costumes morais. No caso de Lautrec, diante da genialidade do artista, são esquisitices piedosamente aceitáveis. Pecadinhos veniais...

sábado, 5 de junho de 2010

Eu ou ele?

As categorias de pessoa em discursos podem servir para criar efeito de distanciamento ou proximidade. Sabemos que há três pessoas gramaticais: a 1ª indica aquele que fala; a 2ª aponta aquele com quem se fala e a 3ª denota aquele ou aquilo de que se fala.
Num artigo publicado na Folha de S. Paulo de 31/ 01/2010, Elio Gaspari relata que Lula teria dito: " O FMI chegava ao Brasil humilhando o governo, dando palpite. Se antes era o Brasil que devia ao FMI e ficava como cachorro magro com o rabo entre as pernas, agora quem me deve é o FMI". O articulista acrescentou o seguinte comentário: "O FMI não deve dinheiro a Lula. Deve ao Brasil".
Gaspari reprovou o Presidente pelo fato de usar a 1ª pessoa do singular no lugar da 3ª do singular, o Brasil. Se recorrermos à teoria da discursivização de pessoa, veremos que não é o caso de o articulista da Folha lançar sua ácida observação sobre o pronunciamento de Lula.
Existem alguns mecanismos de projeção das pessoas discursivas no interior do enunciado. Mais especificamente, a operação chamada embreagem pode justificar a utilização da 1ª pessoa na fala de nosso presidente.
A embreagem é o retorno à estância da enunciação pelo uso de uma pessoa no lugar de outra, criando efeitos de sentido. É exatamente o que fez Lula: usou a 1ª pessoa do singular no lugar de da 3ª pessoa, criando um efeito de subjetividade, para mostrar que cabe a ele representar o Brasil.
Um procedimento inverso é o uso da 3ª pessoa no lugar da 1ª, a fim de criar um efeito de objetividade como se a pessoa falasse de um personagem. É o que faz Pelé, por exemplo: " É difícil carregar a fama do Pelé. As tentações são muitas. O Edson é humano e adoraria levar uma vida mais divertida, mas sabe que é o equilíbrio a base de Pelé. Os dois sabem quanto é importante não decepcionar o povo brasileiro" ( Veja, 4/3/2009)
O plural majestático é outro caso de embreagem: " Nós, el-rei, fazemos saber que...".
Conclusão: qualquer pessoa discursiva pode ser usada no lugar de qualquer outra para produzir efeitos de sentido.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Os tempos verbais e seus propósitos

A questão das várias possibilidades do uso semântico dos tempos verbais e seus propósitos explícitos e implícitos faz lembrar, oportunamente, uma passagem bíblica do Livro de Eclesiastes (3:1-8) "tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu". Essa passagem poderia muito bem servir de abertura para uma discussão sobre o uso semântico dos verbos como um recurso indispensável para que o enunciador obtenha êxito comunicativo. Sabemos que as situações comunicativas apresentam nuances de intenção que ultrapassam a mera necessidade de marcar o tempo cronológico de uma ação: elas exigem do falante sensibilidade para perceber as circunstâncias que permeiam o ato da fala.
Há usos de tempos verbais reveladores mais de intenções do falante do que da definição de tempo. Observemos que, ao escolher o presente do indicativo para indicar um fato futuro, tempo presente associado a certas expressões ou outros tempos verbais, podemos denotar o desejo real de concretizar a ação em um prazo curto e certo: "À tarde envio-lhe a correspondência".
Podemos, ainda, denotar uma intenção escamoteada de que o fato possa não ocorrer: " Assim que eu puder, envio-lhe a correspondência."
A imprensa usa o presente do indicativo para indicar um evento no passado e faz isso para aproximar o leitor do fato: " Time vence com facilidade e encosta no líder". O recurso, conhecido como presente histórico ou narrativo, é também usado em livros didáticos: " Em 1822, o Brasil proclama sua independência".
Quando desejamos expressar polidez ou casualidade num pedido ou mesmo numa ordem, não raro abrimos mão do imperativo, substituindo-o pelo presente do indicativo ou então pelo futuro do pretérito: " Você traz um cafezinho para mim, por favor" ou "Você poderia trazer um cafezinho para mim, por favor".
Com o pretérito imperfeito do indicativo, há a possibilidade de produzir o mesmo efeito e acentuar a informalidade: " Você podia trazer um cafezinho para mim, por favor".
Esses usos semânticos tornam mais exato o efeito expressivo da mensagem e, principalmente, a intenção do falante. Além disso, o emprego desses tempos verbais gera no interlocutor uma resposta efetiva, pois permite perceber que mais do que o uso dos tempos e modos, as escolhas definem uma compreensão que pode estar nas entrelinhas.
Os vestibulares têm usado, cada vez mais, situações do cotidiano para formular questões envolvendo o uso semântico de tempos e modos verbais. É importante, pois, muita atenção na situação comunicativa apresentada para se chegar à resposta esperada.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Inicial maiúscula ou não?

Pelo novo acordo ortográfico, os pontos cardeais não precisam mais de inicial maiúscula. Portanto, região norte, sul, nordeste etc. Assim como "estado", quando divisão territorial interna de países. Só se escreverá "Estado", com maiúscula, para conceituar país soberano, com estrutura própria e politicamente organizado ( o Estado brasileiro), ou o conjunto das instituições ( governo, forças armadas, funcionalismo público etc ) que controlam e administram uma nação ( a máquina política do Estado).
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa só confirmou a grafia estabelecida para essas palavras no acordo de 1943, o que alguns jornais e revistas ignoram, considerando importante manter "Estado", com maiúscula, ao se referir à divisão interna do país.
Parece-me uma preocupação desnecessária, já que é quase impossível alguém confundir "estado de Sergipe" com as várias acepções de estado. Por exemplo, " o estado da matéria" ou "o estado interessante daquela senhora", ou ainda "o estado lamentável daquele senhor".
É só estar atento ao contexto.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A onda dos microcontos

Você já leu microcontos ou ouviu falar deles?
Para seguirmos à risca a definição de microcontos, podemos dizer que são ' miniaturas literárias' que cabem em panfletos, filipetas, camisetas, adesivos, postes, muros, tatuagens, cartão postal, desenhos animados, instalação, música, arquitetura...e que podem ser lidas no ônibus, no metrô e...na tela do computador.
Carlos Seabra lembra que o precursor e talvez o mais famoso microconto já produzido, do guatemalteco Augusto Monterroso, "Cuando despertó, el dinosaurio todavia estaba allí". (Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá), consolidou uma vertente de microliteratura, o desafio de contar algo em pouquíssimas palavras de contados toques.
A partir da conceituação de autores, impõem-se limites precisos para os microcontos, gerando classificações:
- nanocontos ( até 50 letras, sem contar espaços e acentos);
- microcontos ( até 150 toques, contando letras, espaços e pontuação);
- minicontos (alguns estipulando 300 palavras; outros, 600 caracteres).
Nada disso é muito rigoroso e depende de critérios editoriais de quem os adotou. Hoje o limite de 150 toques cabe no formato de envio de texto pelo celular, o chamado " torpedo".
O Twitter, com limite é de 140 toques, mostra-se cada vez mais um difusor da microliteratura, que, provavelmente, acabará impondo este limite como padrão.
A micronarrativa contém ingredientes do nosso tempo, a velocidade e a condensação, a possibilidade de publicação em celulares, painéis eletrônicos, rodapé de e-mails. Há neles algo dos haicais, a poesia japonesa com três linhas e um total de 21 sílabas, de certa forma, com o poder de concisão destes, mas com a liberdade da prosa.
Não sabemos ainda qual o destino do microconto: cairá no esquecimento ou no lixo? será publicado nas diferentes mídias? em folhetos de praia? blogs? azulejos?
O que se pode dizer é que o microconto é um exercício de criatividade, síntese e algo muito divertido de escrever!
veja mais em http://www.revistalingua.com.br/

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ao norte ou no norte: a escolha da preposição certa

Mais uma vez volto à questão da preposição, visto que observamos, com frequência, textos em que a falta de clareza no que se quer expressar é provocada pelo emprego equivocado da preposição, gerando confusão interpretativa.
Josué Machado, em texto para a revista Língua Portuguesa, confirma a desatenção no emprego da preposição, exemplificando com uma passagem de um telejornal em que a moça do tempo anunciou:
" Ao norte do Brasil, haverá chuva intensa e muito calor no período". A região norte do Brasil, como sabemos, é composta pelos estados de Roraima, Amapá, Amazonas, Pará, Acre, Rondônia e Tocantins.
Ao apontar a vasta região amazônica, a moça do tempo enganou-se no uso da preposição. Não é "ao norte" e, sim, " no norte" do país. São diferentes não só formalmente, já que " no norte" é parte integrante da própria região; "ao norte" é, além da região norte, o que há fora dela. Assim, o estado do Amazonas está na região norte, pertence a ela. Já Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa estão ao norte do Brasil, fora do Brasil.
Portanto, muita atenção com as " inofensivas" preposições.

domingo, 11 de abril de 2010

O que é ficção?

Li na revista LínguaPortuguesa (abril de 2010) que o escritor Ignácio de Loyola Brandão já se queixou de que, em encontros com estudantes, mais de uma vez ocorreu de um deles perguntar se ele não escrevia "ficção". Ciente da confusão que fazem entre " ficção " e " ficção científica ", Loyola diz que responde pacientemente que é só ou quase só o que escreve: "ficção".
Por que, então, a confusão entre o geral e o particular nesse caso?
É importante esclarecer que as obras criadas pela fantasia humana são classificadas como de ficção e caracterizam-se pela invenção de situações imaginárias, distantes ou não da realidade. Ficção é simulação, fingimento.
Talvez o advento das locadoras de filmes forçou a corrupção do significado indiscutível da palavra e houve a transformação: "ficção" tornou-se sinônimo de "ficção científica ". Grande número de pessoas passou a entender " ficção " com esse sentido particular. É possível que as locadoras tenham feito isso para poupar espaço no aviso ou na lombada das caixinhas de filmes; em vez de " ficção científica ", o redutor " ficção ". E pegou.
Atenção, portanto, para a diferença!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Como usar os demonstrativos?

É muito comum as pessoas terem dificuldades relativamente ao emprego dos pronomes demonstrativos, já que as gramáticas apresentam excesso de regras para a aplicação desses pronomes, muitas das quais redundantes e até confusas. Na verdade, o demonstrativo tem duas funções ou usos distintos. O ideal é conhecer a única regra básica para cada demonstrativo em cada uma dessas funções.
A primeira função é chamada de pragmática ou situacional, pois o pronome refere-se à situação, ao contexto em que a fala ocorre, e seu uso é paralelo e equivalente ao dos advérbios pronominais "aqui" ( para a 1ª pessoa), " aí" ( para a 2ª) e " ali" (para a 3ª).
Assim, o uso de "este" equivale, situacionalmente, ao de " aqui"; o de " esse", ao de " "; e o emprego de "aquele", ao de " ali". Vejamos alguns exemplos:
Quero saber quem é aquela jovem (ali).
Este aluno que está sentado ( aqui ), chegou atrasado à aula.
Esse livro () é, sem dúvida, excelente.
Dessa forma, " este" refere-se ao universo espácio-temporal do falante: " este" relógio ( aqui) é o que estou usando ou tenho em mão; esta sala ( aqui) é a sala em que me encontro; este momento é sinônimo de agora.
"Esse" refere-se ao universo distante do falante , mas não obrigatoriamente próximo ao do ouvinte. Ao referir-me, por exemplo, a " esses políticos de Brasília" , não estou necessariamente apontando para o universo espácio-temporal do meu interlocutor. Mas, ao referir-me a " esse vestido ( ) que você está usando", aponto para o universo do ouvinte.
"Aquele", por sua vez, só se refere a algo distante do falante e do ouvinte: Quem é aquela criança que vai ali?
A segunda função do demonstrativo é chamada textual ou sintática. O demonstrativo, nessa função, refere-se ao já dito (anafórico), ou ao que ainda será dito ( catafórico) num texto.

  • "Este", quando empregado sozinho, sem oposição, refere-se ao que ainda será dito: " O problema central é este: falta de dinheiro.

  • " Esse" é sempre empregado sozinho, sem oposição, e refere-se sempre ao que já foi dito no texto: ' Fé, esperança e caridade - essas são as virtudes teologais.

  • " Aquele" é usado apenas em oposição a "este" e em referência ao já dito no texto: Marcos é estudioso, e Mariana nem tanto. Aquele passará no vestibular, mas esta talvez seja reprovada. Repare que nunca se deve dizer " esse" em oposição a " aquele".

Essas regras têm exceções: delas excluem-se as formas cristalizadas na língua, inalteráveis, como " isto é" ( nunca " isso é" ), " por isso" (nunca " por isto"), " posto isso" ( nunca " posto isto" e tampouco " isto posto") .



segunda-feira, 1 de março de 2010

As sutilezas do "mas"

Início de ano letivo: tempo de rever, exercitar e dominar as diversas modalidades redacionais. É bom lembrar que a estrutura dissertativa exige muito cuidado no uso dos elementos coesivos - os que "costuram" períodos e parágrafos -, já que promovem ou não a coerência do texto.
Atentemos à conjunção mas, que pode realçar conclusões e marcar oposição entre sentidos diferentes.
Nas sequências " É loira, mas é inteligente" , " É inglês, mas é caloroso" , " É argentino, mas é modesto" , observamos que são exemplos propositalmente estereotipados e preconceituosos cujo objetivo não é a discussão de questões culturais ou ideológicas, e sim o funcionamento do "mas".
Os livros didáticos costumam repetir que o "mas" é uma conjunção adversativa que 'une' duas orações para formar um período composto por coordenação.
Nos exemplos acima, a segunda oração não é uma adversativa da primeira: parece impossível que alguém sustente que " inteligente" se opõe a "loira", que " caloroso" se opõe a "inglês" e que " modesto" se opõe a "argentino".
O que provavelmente se pode dizer é que os três predicados se opõem a outros que estão associados (são estereótipos) a loiras, a ingleses e a argentinos: loiras seriam burras, ingleses seriam frios e argentinos seriam orgulhosos.
Dessa forma, inteligente, caloroso e modesto opõem-se não ao que é dito na primeira oração, mas a um implícito associado a elas. O sentido expresso pelo termo "adversativa" faz sentido, claro, mas não se manifesta na superfície do dito.
O semanticista francês Oswald Ducrot propôs uma boa explicação para o " mas" : ele não contrasta as duas orações que une, mas opõe a segunda (ou o que se conclui dela) ao que se conclui da primeira. Observemos um exemplo bem cotidiano: " A casa é grande, mas é cara". Em cultura como a nossa, o fato de a casa ser grande é um argumento para comprar ou alugar (casas grandes são valorizadas) e o fato de ela ser cara é um argumento para não comprar ou alugar. Assim, o funcionamento da conjunção "mas" é o seguinte: opõe as conclusões implícitas e faz a segunda ser mais forte do que a primeira.
Sírio Possenti faz uma outra sugestão em relação ao "mas", dizendo que esta conjunção marca a oposição entre dois pontos de vista que podem ser expostos em duas orações simples, mas também podem sê-lo em dois longos trechos, já que o " mas" é um marcador discursivo.
Por tudo isso, o "mas" merece atenção em seu emprego no texto dissertativo, a fim de que contribua, efetivamente, para instaurar os sentidos previstos na argumentação.




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

É hora de comemorar!!

Quanto orgulho nossos alunos aprovados nos melhores exames vestibulares do país têm-nos proporcionado!!
Parabéns a vocês que ao longo do ano passado mostraram-se determinados, disciplinados, incansáveis. Um momento tão especial merece comemorações ( no plural ). Boa sorte a todos e sempre que possível venham visitar-nos. Abraços.

Quem sou eu

Mirian Rodrigues Braga é mestre e doutora em Língua Portuguesa pela PUC/SP. Especializou-se em analisar as obras de José Saramago. Em 1999, publicou A Concepção de Língua de Saramago: o confronto entre o dito e o escrito e também participou da coletânea José Saramago - uma homenagem, por ocasião da premiação do Nobel ao referido autor. Em 2001, publicou artigo na Revista SymposiuM da Universidade Católica de Pernambuco. Atuou como professora-assistente no Curso de Pós-Graduação lato sensu da PUC/SP. É professora de Língua Portuguesa e Redação no Ensino Médio e Curso Pré-Vestibular do Colégio Argumento.