sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Para entender a notícia

A produção de um texto, independentemente do gênero discursivo, exige muitos cuidados. Para que se obtenha um bom resultado, é fundamental que os elementos coesivos ( preposições, conjunções, advérbios, certos pronomes, palavras denotativas) sejam bem utilizados, a fim de promoverem a coerência textual. Além disso, não se deve esquecer a observância às regras de concordância nominal e verbal , de regência e de crase. É melhor evitar palavras que sejam raras ou pouco usuais, principalmente, em se tratando de textos de cunho jornalístico.
Lembremos o verbo "vir", que tem a forma "vindo" tanto para o particípio quanto para o gerúndio, ocorrendo o mesmo com seus derivados : advir/advindo , convir/convindo, intervir/ intervindo, provir/ provindo e outros mais da família de "vir" que podem gerar certa dificuldade interpretativa do texto, já que a forma verbal de gerúndio sugere ação em processo, e a forma verbal de particípio, ação já concluída.
Exemplificando:
Foi amplamente divulgado, em diferentes mídias, o caso do italiano Cesare Battisti, condenado na Itália pela acusação de ter mandado matar quatro pessoas. Fugiu para o Brasil e criou problemas para o governo brasileiro, que o abrigou, considerando-o perseguido político. Ao longo das discussões provocadas pela decisão, surgiu a notícia de que Carla Bruni, a mulher do presidente francês Nicolas Sarkozy, teria pedido ao então presidente Lula que não extraditasse Battisti:

"(...) um grupo de apoiadores das vítimas do terrorismo na Itália acusou Bruni de ter intervindo a favor de Battisti (...)".

Além do particípio pouco usual do verbo " intervir" ( intervindo, que coincide com o gerúndio), o redator escorregou na regência, usando " a favor" em vez de " em favor", o que teria sido mais apropriado.
Quanto ao particípio, embora seja correto, o emprego de outro verbo mais comum, como "interferido", talvez tivesse deixado a notícia mais clara.
Ao elaborar um texto, é melhor não perder de vista o leitor. É ele que imprimirá o sentido do texto a partir das marcas estruturais deixadas pelo próprio texto.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mulheres, textos e números

A revista Science publicou um estudo cujo resultado põe abaixo teorias sexistas de que as mulheres são inferiores aos homens nas ciências exatas. De acordo com a pesquisa, mulheres que estudam matemática e física tiveram um desempenho melhor nestas disciplinas quando precedidas por atividades de redação, um dado revelador de que escrever pode melhorar a autoestima das estudantes.

Dos 399 alunos (de ambos os sexos) que participaram da pesquisa, parte deles teve de escrever sobre valores pessoais antes de começar o curso de física propriamente dito. Já a outra parte não participou de nenhuma atividade, indo direto ao curso. As mulheres do grupo que escreveu se saíram melhor na prova de física do que as do outro grupo. Entre os homens não houve diferenças significativas.

Quem sou eu

Mirian Rodrigues Braga é mestre e doutora em Língua Portuguesa pela PUC/SP. Especializou-se em analisar as obras de José Saramago. Em 1999, publicou A Concepção de Língua de Saramago: o confronto entre o dito e o escrito e também participou da coletânea José Saramago - uma homenagem, por ocasião da premiação do Nobel ao referido autor. Em 2001, publicou artigo na Revista SymposiuM da Universidade Católica de Pernambuco. Atuou como professora-assistente no Curso de Pós-Graduação lato sensu da PUC/SP. É professora de Língua Portuguesa e Redação no Ensino Médio e Curso Pré-Vestibular do Colégio Argumento.